“Fechou o tempo, o salão fechou, mas eu entro mesmo assim.
Acenda o refletor, apure o tamborim, aqui é meu lugar, eu vim”
(Chico Buarque de Hollanda)
A Subversa vai voltando aos poucos, desde sempre, num reaparecer constante. Vamos saindo-vivas por continuar vivo o desejo de continuar editando essa revista. No número passado, publicamos o nosso avesso. Do mar à piscina: numa intenção menor, compacta, refrescante, refúgio de um calor abrasador, deixamos as profundidades de lado, embora elas sempre voltem; é o movimento das ondas. Às vezes, voltam ainda mais fortes, mais certeiras. É o mar, afinal de contas, o maior, o todo-poderoso, o útero do mundo, o início e o fim, mas isso não desqualifica em nada a invenção de outros lugares onde mergulhar, na escassez de água salgada. Toda a costa marítima cabe no plano da imaginação de uma longa tarde de piscina concreta e recheada de azulejos. Além disso, a piscina é boa porque tem bordas, onde dá para ficar dentro e fora ao mesmo tempo, enquanto o mar te engole ou te cospe. No melhor dos casos, ele te balança, num abraça-e-solta aveludado.
Mas não, a Subversa não está saindo do ramo literário para o comércio de piscinas. A questão toda é que este número 2 do volume 15 está mais para ficar na borda do que nos frios fundos. Vivo, acordado, chacoalhando um pé na calmaria da água enquanto o outro pisa no concreto, recebendo e convidando as pessoas que participam com textos. Na chamada [sair vivo], recepcionamos os autores Carlos Henrique Silva, Huggo Iara, Rogers Silva e Jasmina Schmidt. Como nossos convidados, o psicanalista Fábio Belo apresenta um de seus poemas reunidos em seu novo livro, “Ensaios de psicanálise e alguns poemas” (Nebulosa Marginal, 2024), a ser publicado em breve. O poeta e filósofo Felipe G. A. Moreira, ex-colunista da Subversa, manda uma correspondência poética durante suas férias no Rio de Janeiro. Nós continuamos juntas – Tânia, Fabíola, Morgana. Marcel Soares acompanha como membro do corpo editorial e incentivador da continuidade. A Subversa continua convivendo conosco, saindo e entrando viva no tempo.
Neste ano, vamos completar dez anos. Às vezes, é o tempo exato que marca a guinada, a mudança de rumo, a estabilidade dos ventos; vai saber. Talvez cada revista adormeça e acorde no tempo, num ciclo natural de divisão do trabalho entre o universo imaginário das revistas e jornais, tanto mais os literários que são tão sensíveis e resistentes ao mesmo tempo. Justamente por essa razão é que nós estamos aqui de novo e sempre: só para desejar a vocês uma ótima leitura.
Morgana Rech
FICÇÃO
Não conseguiu firmar o nobre pacto entre o cosmos sangrento e a alma pura | Carlos Henrique dos Santos
Notícias do Insondável | Fábio Belo
De mim, poderás ter tudo | Fabíola Weykamp
Salvatério | Huggo Iora
Minha mãe é um poema | Felipe G. A. Moreira
Embrulhado, embrulhando | Jasmina Schmidt
A última revolta de Jesus Cristo | Rogers Silva
ENSAIO
Pequeno arsenal semântico sobre a queda | Morgana Rech
CRÍTICA
Exílio e sentimento Han na obra de Theresa Hak Kyung Cha | Tânia Ardito