Ela conta todos as verticais que a rodeiam. Depois tudo que é branco, para então contar o resto. O momento de espera é selvageria, a suspensão numérica dos contrários. Para frente, para trás, para cima, para baixo, criação, decadência, ordem hierárquica não há, só o regime da sobreposição. Ela não sabe pensar esperando. E se for pensar é um pensamento viscoso, grudento, torto, porém circular. Tampouco sabe sentir. E se for sentir é um sentimento apertado, amarrado, amordaçado.
O rolo de lixad’água que a embrulha pelo menos é colorido, um bordô simpático, interrompido por vários respingos assimétricos, uns mais brancos, outros mais verdes, mas todos intrusivos. Ali entra bastante luz, e muita sombra, entra cheiro. De tanta coisa que entra ela já se perdeu. Talvez já não me encontre nisso que compreendemos como situação, já que as coisas ao meu redor perderam sua condição, ou pelo menos eu perdi a minha. Não consegue sequer rastrear o movimento do diálogo, sou eu que imito as coisas, ou são elas que me espelham? Entra tanta coisa aí, que até as verticais deixaram de se destacar, menos ainda o branco, para nem falar do resto.
Manual de instruções:
1) Desembrulhar cuidadosamente o sujeito;
2) Lixar o corpo obtido;
3) Se embrulhar em um pedaço de lixa d´água não usado;
4) Contar as verticais.
Jasmina Schmidt é mestrada em estudos literários na Freie Universität Berlin; alemã que reside atualmente em Curitiba, Paraná, Brasil.