Minha mãe é um poema | Felipe G. A. Moreira

· sair vivo

Para L.

Bebê, faça por mim. Bebê não faz. Bebê ruim.
Bebê faz mas não faz direito. Bebê ruim.
Bebê faz mas faz direito. Bebê ruim.
Se bebê não diz que é ruim, bebê precisa deixarde ser bobo.
Se bebê diz que é ruim, bebê precisa dizer com raiva.
Muita. Mais do que a mamãe. Porque senão não vai parecer.
Que é ruim no âmago do âmago de tudo que é porque é ruim.
Mas não é a hora do bebê dizer que é ruim.
Não é a hora do bebê dizer nada. Agora sempre é o tempo.
Da mamãe dizer que é ruim. Bebê, ouça por mim.

Ipanema, 17 de janeiro de 2024

 


Felipe G. A. Moreira é poeta e publicou duas coletâneas de poemas: Por uma estética do constrangimento (2013) e FGAM (2021). Ele também é doutor em filosofia pela Universidade de Miami, atua como pesquisador de pós-doutorado em filosofia na Unesp e publicou The Politics of Metaphysics (2022) pela Palgrave Macmillan (Springer). Seu site pessoal é: https://www.felipegamoreira.com/