Editorial Vol. 15 n.º 01 [AVESSOS]

SUBVERSA ANO 09

 

DO OCEANO À PISCINA

 

· avesso
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Ninguém é bobo de dizer que uma piscina é mais fascinante do que o mar, mas a Subversa está de volta como quem passa de um longa navegação transatlântica para a construção de uma piscina que está sendo inaugurada nesse número como o nosso avesso. Do fundo do mar, o outro lado alcançou ladrilhos azuis cuja profundidade, largura e tamanho da borda serão construídas pelo trabalho de edição.

Quando fundamos a Subversa, estávamos em dois pontos geográficos distintos – Brasil/Portugal – com um mar no meio. Víamos o mar como um território literário: variedade de vidas e de camadas, profundidade desconhecida e superfície que agrada e/ou assusta. Assim era a literatura que achávamos que tínhamos à nossa volta naquela altura, e tudo o que precisávamos fazer era prestar atenção aos movimentos e às correntezas do momento. Não queríamos fazer crítica literária centrada em elogiar ou criticar pessoas já reconhecidas, nem em procurar sacadas inéditas sobre os falecidos Pessoa, Camões, Machado de Assis, Lispector. Queríamos reviver o espírito das revistas literárias do início do século XX, no seu caráter de impulsionar movimentos subjacentes. Isso significava fundar um espaço de convivência entre artistas e poetas que estavam ao nosso lado, na sala de aula, andando conosco nas ruas, nos coletivos, publicando seus poemas em zines, blogs e, depois, nas redes. Resolvemos fazer da internet o nosso café Orpheu do século XXI, mesmo que falássemos bastante sobre a revista também fora da internet. Achávamos que nosso papel era traçar uma linha ao redor desse espaço comum, embora fosse o próprio universo comum que dizia onde é que a linha estaria. Queríamos descategorizar a disputa pelo espaço literário.

Admitimos, sem querer, querendo, um trabalho um pouco psicanalítico, talvez: não fazer nada antes do material ser apresentado, mas depois de sua chegada, dando condições para que chegue, mantendo uma presença constante e suficientemente boa. Para isso, mantínhamoso máximo de pragmatismo na dinâmica interna da revista, para que um máximo de sensibilidade fosse experimentada no contato com os textos. Funcionamos como dois pontos de apoio cujo objetivo era, de fato, sustentar um território que se move, como duas árvores que sustentam uma rede de descanso, ou duas estacas para uma rede de pesca, ou duas ilhas que formam uma baía no centro.

Hoje, a imagem dos dois pontos com água no meio dá lugar para a imagem da beira da piscina, onde todos circulam e permanecem mais para dentro ou mais para fora d´água. Existem muitas coisas que se pode fazer num lugar desses, como por exemplo estar seco e molhado ao mesmo tempo, ver o fundo com mais nitidez, imaginar saltos que você daria, se proteger, se arriscar. A borda da piscina é como escrever, pois ao tocar uma leitora ou um leitor é que você descobre o quanto dá pé na vida e quais os movimentos desejáveis para se lançar no próximo pulo.

É com muito prazer que desejamos a todas e todos uma ótima leitura.

 

Texto: Morgana Rech

Comissão editorial: Marcel Soares, Fabíola Weykamp, Tânia Ardito, Sofia Vilasboas e Morgana Rech

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