eu gostaria de construir um império
ter meus súditos massageando meus pés, dizendo, Oh, o quanto eu sou criativa, que minha última obra foi uma passagem potencializadora para todos.
meus amigos também gostariam de ter impérios, fazer tudo da maneira deles.
perguntei a uma amiga bem próxima como seria o império dela e ela me respondeu que “no meu império, nenhuma mulher dormiria sem sexo, diminuídas em suas domesticações”
outro próximo amigo disse que no império dele as surubas não seriam tão levadas a sério como as surubas em que ele já esteve, seria a pura emoção da carne e venderiam shots de Viagra
sempre me coloco a pensar que os impérios caem, falham as pernas, Deus não deixa. Deus não deixa porque o gozo nos leva a perdição, o corpo treme nas mãos do diabo, dos divinos líquidos só podemos pensar em filhos
e aí eu meu lembro que meu filho nasceu de uma péssima gozada
eu como uma estátua na cama
com um homem que não podia suportar ver minhas estrias sem brochar, sem fechar os olhos.
Impérios caem, falham suas pernas,
o prazer na ladeira junto com os princípios, a mulher do sex shop que só vende seus produtos para mulheres casadas, minha amiga pastora com uma vida dupla de dar inveja a quem tem uma vida só.
impérios caem e calcinhas descem
eu bem que gostaria de descer todas as vezes que fosse perigoso, todas as vezes em que eu não pudesse exercer meu gozo, todas as vezes em que eu não acertasse na vida
como uma coisa que diz
como se eu tivesse um império
e o slogan desse império fosse: “só vai sobrar foder gostoso, só vai sobrar isso”
Deus taca fogo e voltamos pra casa como se nada.
Isabella Ingra, nascida em Brasília (1993), é poeta, atriz e professora de literatura, mora em Rio das Ostras- RJ e escreve diariamente sobre os atravessamentos da vida. Se lança numa escrita performática e inflamatória. Já liderou diversos encontros de poesia e publicou recentemente o livro “Picê”, seu primeiro compilado de escritos.