O Eu e suas hipóteses: Autorretratos de Bryan Saunders e a experiência Under The Influence  

Tânia Solano Ardito

Tânia Solano Ardito (Programa Doutoral em Modernidades Comparadas

Universidade do Minho, Portugal)

“Soul I would recommend to people get torture become a torture soul, really.”

Bryan Saunders

A epígrafe que abre este ensaio foiretirada de Art of Darkness, documentáriodo realizador David Parker a respeito da obra de Bryan Saunders. Trata-se de uma fala do próprio artista, na qual tenta demonstrar com essa afirmação, como ele próprio,Saunders, pensa a sua obra, e como ela pode adquirir um sentido positivo, de forma a purgar os males ao criar a sua arte. Assim, neste breve espaço[1] , pretende-se analisar no conjuntoda obra de Saunders, a experiência desenvolvida com drogas legais e ilegais[2] aque o artista intitula Under theinfluence[3],para assim tentar compreender como esta ‘alma torturada’ abre a porta para uma investigação de si mesmo e das infinitas possibilidades do ‘eu’ ao criar os seus múltiplos autorretratos.

Em 1995, enquanto estudante de Artesem uma universidade do Tennessee[4],Bryan Saunders decidiu pintar um autorretrato por dia, até morrer. A descoberta da arte como forma de purga de seus sentimentos negativos permitiu ao jovem, que aos 21 anos já tinha sido preso duas vezes, e segundo ele após conviver com o lado mais obscuro de si mesmo e da humanidade[5], uma descoberta de sentimentos mais positivos, e um meio de continuar vivendo.

Nesta investigação de si, aodiariamente dedicar-se aos autorretratos descobre um ‘eu’ que multiplica-se a cada dia. Além disso, ao sacrificar-seem diferentes experiências que levam o seu corpo quase ao limite, concede ao artista, um conhecimento de um ‘eu’ que apenas se torna possível enquanto outro, este descoberto nas condições extremas de suas experiências.

Dessa forma, o eu-artista-Saunders desdobra-se em outro-modelo-Saunders, multiplicando-se e gerando uma multidão de eu-possibilidades dia após dia (Gil, 2005).

 

Autorretrato e identidade

Sabemos que normalmente a teoriaestá quase sempre um passo atrás da prática artística, e qualquer tentativa de definição, principalmente na contemporaneidade, corre o risco de desatualização ou de não compreender a totalidade da prática artística. A dificuldade de uma definição teórica a respeito de retratos e autorretratos já não é em si uma novidade, e muitas vezes, ao analisarmos uma obra de arte, acabamos por contradizer qualquer definição teórica.

Este constitui, provavelmente, ocaso de Saunders, pois ao tentarmos qualquer encontro com a teoria acabamos por confrontá-la. Ao colocarmos as primeiras questões: há semelhança entre o modelo retratado e o artista que quer se ver retratado? Conseguimos reconhecer o artista-modelo Bryan Saunders em seus autorretratos? Ao olharmos qualquer autorretrato de Under the Influence,a resposta pode ser um talvez ou, há aqui uma semelhança. Sendo assim, cabe fazer a pergunta colocada por José Gil em "A Arte do retrato", na qual o autor comenta que a questão da semelhança entreimagem e modelo sempre esteve presente quando tentamos definir um retrato, nomeadamente a fidelidade entre o retratado e sua imagem, impondo-nos, assim, a questão: “o
retrato deve ser fiel a quê?” (Gil, 2005, p. 28).

Ao pensarmos no entendimento de quea teoria do retrato procuraria uma “relação direta e fiel que se deve poder estabelecer entre o retrato e seu modelo” (Pommier, 2007, p. 164), essa relação, no entendimento cópia fiel,não está entre as maiores preocupações de Saunders. Assim, um autorretrato fiel ao natural, isto é, semelhante às suas características físicas, não é encontrado em muitos de seus autorretratos. Saunders não tem a intenção de fazer cópias fiéis de si próprio, mas transmitir ‘estados de espírito’. Dessa forma, podemos aproximar do entendimento de Pommier (2007) de que um retrato quase semelhante poderia criar uma ilusão de estar próximo da imagem real do modelo retratado, porém tal semelhança poderia deixar escapar o essencial, a alma do homem. (Pommier, 2007, p.183).

Ojogo de ilusões criado por Saunders consiste em tentar captar os seus sentimentos em determinadas condições, muitas delas extremas, ou em que o artista está exposto a uma fragilidade física. Como exemplo, há um autorretrato feito durante internamento em um hospital:

 

broken image

 

Nele, vemos o artista retratadodeitado (ou dizendo de forma popular: afundado) em uma cama, sob efeito de morfina e valium, medicamentos necessários para controlar as dores de um pneumotórax. No autorretrato, conseguimos enxergar um corpo fragilizado, quase perdido entre grades da cama, bandeja de comida, soros e medicamentos. Em suas notas a respeito do desenho, Saunders comenta que desenhou como se estivesse saído do próprio corpo, sem ajuda de espelhos, sentindo como se tudo ao redor estivesse flutuando. E é esta visão que temos, não observamos este autorretrato como se fosse a visão espelho de um pintor, mas flutuamos com ele, nos sentimos débeis ao observar Saunders, sentimos o cansaço e a falta de vigor em que ele estava naquele momento.

Retratando assim um corpofragilizado num traçado a lápis preto que assemelha-se a um corpo-sombra que esteve diante da possibilidade de morte, lembramos das palavras de José Gil (2005) que associa a sombra a uma aproximação do retrato com a morte. Então, ao observarmos esse autorretrato, que fixa um momento de limite e aproximação da morte, Saunders cumpre, de certa forma, o que José Gil comenta ser a função do retrato: "fabricar a eternidade de um rosto com a matéria da morte" (Gil, 2005, p. 26). Porém, ao multiplicardiariamente diversas hipóteses de rostos em seus autorretratos, Saunders eterniza a sombra do que poderia ser um rosto, desta forma, além de multiplicar os ‘eus’ ele também multiplica a morte desses ‘eus’.

No ensaio intitulado A Auto-Representação, José Gil (2005) define a pintura como umexercício de voyeurismo, pois temos um artista-corpo que quer ser visto e representado. Refletindo o exterior no seu próprio corpo, o olhar do artista vê no próprio corpo aquilo que o rodeia, ao auto representar-se o outro-modelo deixa de existir, surgindo apenas o artista-modelo, sendo que o olhar deste artista já não precisa prestar atenção no outro, mas apenas em si próprio. É este olhar em si próprio e no mundo que o rodeia, o maior interesse de Saunders, o seu intento não é colocar a sua presença no mundo, ou a sua visão de mundo em seus autorretratos, mas colocar o mundo nele próprio e o representar. Como exemplo de como o mundo que o rodeia influencia a produção de seus autorretratos, temos um autorretrato que foi desenhado após o consumo de duas garrafas de Robitussin, um medicamento para a tosse.

Em um momento anterior da composiçãodo autorretrato, Saunders encontrou no lixo um livro coreano, nele estava a imagem de uma menina com Síndrome de Down, de certa forma, ele tentou descobrir sobre o que o livro tratava, mas sem sucesso. O interessante é que, no momento da composição do desenho, o livro coreano já não era uma questão para o artista, porém após desenhar o autorretrato, recebeu a visita de uma amiga que comentou admirada: “Look! Look at you! You’re giving yourself Down Syndrome!” (Saunders, 2020b, p.14).

Robitussin DM – 2 bottles 8/11/01. Pencil, pen, cough syrup, acrylic paint, collage. In: Saunders, B.L. (2020b). Under the Influence. [s.l] [s.n]. p. 14.

Ao retratar-se com Síndrome de Down,Saunders obtém uma nova característica física e de certa forma uma nova identidade. Assim, poderíamos afirmar tratar-se de ‘um autorretrato de Saunders?’ Poderia um espectador que não conhece o artista, diante do desenho perguntar: ‘o artista tem Síndrome de Down?’ Poderia acreditar então, tratar-se de um autorretrato de Saunders ao obter uma resposta de que o artista não tem Síndrome de Down? Caberia apenas acreditar tratar-se de um autorretrato, pois o artista assim o afirma? Afirma, tal como encontramos em Derrida (2010), que diante do autorretrato a identidade é apenas provável e apenas uma hipótese e dependendo “do efeito jurídico do título, este evento verbal que não pertence ao interior da obra, mas somente à sua borda parergonal” (Derrida, 2010, p. 70). Assim, para criar um autorretrato que irá identificá-lo como um outro Saunders portador da Síndrome de Down, o artista precisa ir além do olhar “do pintor que se olha” (Gil, 2005, p. 51), ao desenhar sob influência do medicamento, permite ser verdadeiramente este outro com os olhos que caracterizam a Síndrome de Down, obtendo assim uma nova identidade.

O corpo-ruína no autorretrato

As novas identidades que estão retratadas por Saunders são como espectros que observam o artista à espera de serem captadas e retratadas. Assim, conforme Derrida (2010), os autorretratos de Saunders são ruínas, pois esses ‘eus’ são apenas vislumbres de uma memória que o artista tenta captar com o seu olhar-cego, mesmo que retratadas, já não existem, como uma figuração que foi eclipsada (Derrida, 2010, p. 71), isto é, elas só têm uma possibilidade de serem eternas como hipótese. Porém, nesta busca de hipóteses, há um eu-artista que é sacrificado fisicamente. O seu corpo todo está envolvido na sua arte, em martírio e cegueira dos quais nos fala Derrida (2010); o artista oferece o corpo todo em prol de sua arte para ter acesso a uma ‘luz espiritual’.

Além da experiência de praticar aarte sob influência de drogas, Bryan Saunders também cria outros tipos de experiências, que muitas vezes envolvem criar ‘problemas’ a ele próprio, experienciando assim um corpo em ruína, que é testado quase à exaustão. Um desses ‘problemas’ auto-criados por Saunders foi passar 30 dias totalmente cego, no qual a intenção era confrontar a condição humana. O período da experiência, compreende de 6 de janeiro a 4 de fevereiro de 2018, durante o qual Saunders gravava as experiências em áudio-cassetes. Segundo o artista, ao longo da experiênciaforam produzidos 4 corpus de trabalho: 1) Daily-Self-Portraits; 2) Ilustrações de experiências e observações; 3) Life Hacks (coisas que aprendeu para tornar a vida mais simples elimpa); 4) Tapping Meditation Drawingssongs (para acalmar o nervosismo e não sucumbir ao sentimento esmagador dedor e desgraça) (Saunders, 2019, p. 01).

É interessante de nota que essabusca por sentimentos desconhecidos, ou uma ‘luz espiritual’, é em primeiro momento uma auto-investigação de si, mas por esta investigação acaba colocando ele próprio em problemas, porém ao tentar solucioná-los, o artista consegue ajudar a si próprio e, também, aos outros. Saunders reflete:

Much of art is about problemsolving. Dealing with a problem, finding a problem or discovering some problem. And the artist is someone who shows other people how they solve those problems. [...] I really need to create huge problems for myself and this will help me expand my creativity and really push me to advancing myself and others.” (Saunders, 2019, p. 04)

Sally O’Reilly comenta, em The Body in Contemporary Art, que a relação do corpo com a arte sofreu modificações ao longo do século 20. Além de uma nova maneira da presença e envolvimento do corpo em relação à obra, as questões suscitadas pelos artistas também são diferentes. Segundo a autora, na arte contemporânea há uma maior preocupação em colocar todo o corpo no fazer artístico, ou o próprio corpo ser a obra de arte, e incluir as influências do cotidiano e os reflexos emocionais no corpo-obra. E essas mudanças também podem ser observadas nos retratos e autorretratos. Conforme O’Reilly (2009), o modo como o indivíduo e o contexto são retratados contrariam uma ideia tradicional de retrato. Em uma ideia tradicional, há uma tentativa de parar o tempo, além de muitas vezes o indivíduo não estar em seu contexto. No entanto, continua O’Reilly (2009), os artistas contemporâneos buscam o ponto de convergência na arte, entre o indivíduo-modelo e o contexto de sua própria vida.

Este contexto de artista-modelo emsua própria vida está presente na obra de Saunders, ao realizar um autorretrato por dia, ele de certa forma documenta a própria vida e toda e qualquer experiência que ele realiza não é ‘fora de sua rotina’, mas incluída no seu dia a dia.

Durante os 30 dias do ‘mês cego’, Saunders comenta que foi percebendo que a experiência era algo mais a respeito da vida do que à arte. Ele relata no dia 5 da experiência que foi sentindo certa frustração, não pela impossibilidade de enxergar, mas por sentir falta do diálogo com a arte, nomeadamente a influência autorreferencial, e a inspiração que surge ao ver coisas novas. Ele passa a indagar se existem novas formas em que ele possa produzir arte e conseguir inspirar-se:

“I can try to make some sense of my vision-less image so I need to think is there any other way? Any other things I can do that can inspire myself to advance further? (Saunders, 2019, p. 10).

Ao procurar soluções em corpo forade seu habitual contexto, nomeadamente a cegueira, Saunders envolve o corpo em novas formas de fazer artístico. Ao procurar respostas e encontrar soluções não
só para ele, como também para outras pessoas, conforme mencionado acima, é também colocar o corpo como forma de questionar a própria sociedade. Ao expor o corpo a sacrifícios, o artista pode chocar o público, mas também faz com que este mesmo público reaja aos questionamentos colocados pelo artista por meio de seu corpo. Sally O’Reilly traz como exemplo a artista Marina Abramović, em uma performance intitulada Lips of Thomas, na qual a artista cravou em sua barriga uma estrela de David em um ritual de dor para desafiar convenções sociais e chamar a atenção para injustiças políticas (O’Reilly, 2009, p. 47).

Bryan Saunders comenta que aocolocar o corpo em sofrimento não busca criar uma grande obra de arte, mas entende que a arte é feita para aliviar o sofrimento do outro, no que podemos entender como uma responsabilidade de um ‘eu’ enquanto artista:

“We don’t have to surfer to make great art. In fact we have a responsibility as individuals living in a society of others, to not surfer.” (Saunders, 2020b, p. 21).

 

Dessa forma, ao transformar o seupróprio corpo em ruína ao realizar a sua arte, Saunders multiplica as questões, e problemas de eu-outros, entrando em consonância com a forma contemporânea de prática artística da qual nos fala Sally O’Reilly do uso do corpo como objeto questionador da sociedade.

Autobiografia: sim e não

Ao iniciar, em 1995, os seus autorretratosdiários, Bryan Saunders não tinha como proposta organizar uma autobiografia, nem documentar os seus dias. A proposta pensada por ele de forma objetiva[6] era fazerum autorretrato por dia até morrer. Em uma conversa com alunos da Universidade do Mississipi,[7]Saunders contou que ao decidir fazer diariamente os autorretratos, encontrou uma forma de organizar a própria vida. Quando o artista foi cursar Artes na Universidade, já tinha passado por um percurso de infância e adolescência atribulado, preso aos 15 anos em um centro de correção juvenil, foi enviado para um colégio militar, no qual conta que sofreu abusos físicos e emocionais. Aos 21 anos, foi preso novamente e enviado para a penitenciária, local em que presenciou vários tipos de violência.

Entretanto, como parte da pena, Bryan foi obrigado a concluir os estudos no programa General Educational Development (GED), como forma de obter um certificado de High School, oque acabou revelando-se uma porta para a Universidade.

Durante os seus estudos na Universidade, começou a compreender os seus sentimentos e como eles poderiaminfluenciar os seus desenhos e ajudar a desenvolver a sua arte. Saunders conta[8] quesentia-se frustrado ao comparar os seus desenhos com os de seus colegas. Em uma aula o seu trabalho foi avaliado por um professor de forma negativa, e foi obrigado a refazê-lo. Sentindo-se irritado, e frustrado, ele colocou (sem intenção) toda a sua raiva enquanto desenhava. Foi desta forma que encontrou o seu caminho na arte, pois o desenho repleto de raiva e frustração foi elogiado pelo professor e Saunders percebeu que trabalhar os seus sentimentos era a sua forma de evoluir artisticamente. Apesar de não conhecer outros sentimentos além de raiva e tédio, e conforme confessa em Art of Darkness, não sentir empatia paracom as outras pessoas, os autorretratos, foram iniciados para que ele pudesse investigar nele próprio os sentimentos que eram desconhecidos.

Atualmente, os mais de 13000 autorretratos compõem uma estante que é denominada por Saunders como Encyclopedia of the Self. A estante é organizada não só por ordemcronológica, mas também pelos locais em que o artista viveu. Segundo Saunders (2019), a organização da estante não tem como intenção narrar a história da sua vida criando uma autobiografia.

Contudo, permite saber exatamentecomo ele estava vivendo, os seus sentimentos e condições ao revisitar um autorretrato.

Natacha Allet (2005) analisa em umensaio a questão da diferença entre autobiografia e autorretrato para ‘contar uma história do eu’. Para tal, utiliza das palavras de Beaujour para definir a diferença de perspectiva do ponto de partida:

Beaujour insiste sur la différencequi existe entre le projet de l'autobiographe et celui de l'autoportraitiste, en affirmant que le premier (l'autobiographe) se pose la question de savoir comment il est devenu ce qu'il est devenu, tandis que le second (l’autoportraitiste) se demande qui il est au moment même où il écrit. (Allet, 2005, p. 3).

Analisando os autorretratos deSaunders e pesquisando a sua história artística entendemos que ele não se
interroga em “quem ele é” no momento em que faz o autorretrato, mas em quem ele pode se transformar. De certa forma, contrariando a observação de Beaujour, Saunders precisa saber de onde veio, qual sua origem e percurso, até o momento em que decide pintar os autorretratos e os motivos pelos quais os faz. Se pensássemos em termos de autobiografia, sabemos que esta nunca está completa (porque é preciso estar morto para contar uma história biográfica completa), podemos pensar no objetivo de Saundersde fazer autorretratos diários até o dia em que morrer. Ele não está desenhando a sua autobiografia, porém se o seu objetivo for realizado, o último autorretrato, será o momento final da vida de Saunders e deixará como legado uma autobiografia completa.

Ao conjugar os seus autorretratos ediversas experiências, Saunders não interroga ‘quem ele é’, mas em quem ele pode se transformar em certascaracterísticas e condições. Se os fatos da infância influenciaram e trouxeram à tona o seu lado sombrio, ele interroga-se com os autorretratos quais os outros sentimentos que ele pode ter ou retratar. Além disso, Saunders também procura um meio de purgar os sentimentos negativos que habitam nele, ao trabalhar em seus autorretratos os traumas e tragédias que marcam a sua
história de vida. Segundo o artista, com esforço ele pode desfazer o efeito negativo desses acontecimentos, alterando a memória e o significado da experiência, aumentando o conhecimento sobre si próprio; é um modo de curar-se transformando o efeito negativo do trauma em efeito positivo de sabedoria e criatividade (Saunders, 2020b).

Expurgando o monstro

Neste processo de cura, Saundersmuitas vezes depara-se com a figura de um monstro ao retratar-se. Durante a sua experiência The Color Months, uma das primeiras após graduar-se na Universidade em 1998, Saunders foi morar em um pequeno office, sem acesso a chuveiro ou à cozinha. No pequeno espaço, estava exposto a intensas luzes, foi então que começou a sentir como isto estava influenciando os seus autorretratos percebendo uma sutil diferença em sua habilidade técnica. Além da melhoria da habilidade, Saunders também percebeu como os autorretratos e a auto-exploração de seus sentimentos eram importantes para manter a saúde mental.

I´m finding myself albeit in more than one piece, a body whole, charged with growth and hope for years to come. I am fulfilling my own prophecy of hope! Though I often stray, one thing has remained constant, and for that I remain thankful. God bless you my self-portraits.(Saunders, 2020a, p. 01)

Ainda durante a experiência do mêsamarelo, no sétimo dia, encontramos um sinal da purga de sentimentos negativos, Saunders realiza um autorretrato no qual regurgita um monstro. Ou melhor, ele representa-se ainda como um monstro, pois a boca contém a anomalia que podemos definir como monstruosa, mas no restante do autorretrato temos as características físicas ditas ‘normais’ do ser humano.

Day 7: 10/12/98 In: Saunders, B.L. (2020a). The Colors Month. [s.l] [s.n] p. 08.

A boca que se abre pode engolir o eu-artista retratado pelo seu avesso, deixando apenas exposto o eu-monstro, mas ao fixar a imagem no autorretrato e provocar a sua morte, conforme já foi tratado anteriormente neste ensaio, Saunders consegue expurgar e consegue delimitar aquilo que seria o seu limite entre a sua identidade humana e o monstro hipótese que ela não deseja ser, conforme José Gil:

Os monstros, felizmente, existem não para nos mostrar o que não somos, mas o que poderíamos ser. Entre estes dois pólos, entre uma possibilidade negativa e um acaso possível, tentamos situar a nossa humanidade de homens. (Gill, 1994, p. 10)

É neste acaso possível que vive a investigaçãode Bryan Saunders sobre si próprio, ao ndagar-se ‘quem eu sou’ ou ‘quem eu não sou' diante de diagnósticos médicos que dizem ter certas características psicológicas consideradas desviantes e muitas vezes retratadas na sociedade como sendo pessoa-monstro. Saunders não deixa de mostrar o incômodo de ter sido diagnosticado com o Transtorno de Personalidade Antissocial ainda ao início da vida (o artista não sabe precisar a data). Esta possibilidade o assombrou, conforme relata em Art of Darkness. Porém, durante a sua vida, outras crises ediagnósticos seguiram-se e Saunders encontrou na arte uma forma de manter a ele próprio saudável, conforme relata:

I’ve been labeled with: AntisocialPersonality Disorder (as a child), Borderline (in my teens), Schizotypal (as a young adult), Paranoid Schizophrenic (at present) [...] So I self-medicate with art, obsessively and constantly, and when things in my environment get too overwhelming, I check into a hospital and get medicated. (Saunders, 2018, p. 11)

No volume Under The Influence, encontramos um exemplo de internamentoauto-imposto, acompanhado de um autorretrato realizado após a medicação. Podemos ver um contraste da situação descrita por Saunders: “I had been having obsessive violent thoughts about driving my car into the Acoustic Coffee Shop and punching a hole in the gas tank and burning that place”, (Saunders, 2020b, p. 25). Saunders desenha o seu autorretrato no segundo dia de internamento, fortemente medicado, segundo relata, um amigo o caracterizava como zombie, quase sem expressão e movimentos. O próprio Saunders não lembra dessa sensação, a única imagem que guardou foi de um livro de colorir My Little Pony. Ao visualizarmos o autorretrato, não vemos um monstro que desejava explodir um café, mas um simpático e inofensivo Saunders vestindo uma T-Shirt cujo centro estampa um colorido pônei. Percebemos, assim,pelo autorretrato a busca de Saunders de não ser o monstro que deseja destruição, mas alguém que deseja aflorar os seus sentimentos positivos e manter a sua humanidade.

Experimento com drogas

Provavelmente, a experiência de realizar osautorretratos sob influência de drogas é um dos trabalhos mais conhecidos de Saunders. Além da sua obra principal, os autorretratos diários, Saunders também apresenta o denominado Stand-Up Tragedy, além de performances sozinho ou em grupo.

Por meio do seu trabalho Under The Influence, recebeu atenção damídia e chegou a integrar exposições, sendo a de maior projeção Sous influences: Artistes et psychotropes. A exposição ocorreu na Fundação La Maison Rouge, em Paris, no ano de 2013. Saunders reconhece a importância dapopularidade de Under the Influence, para ajudá-lo a realizar outros projetos:

[...] the popularity of this one experiment is pretty great. It gives people an opportunity to discover some of the other things I do or have done as well. Things that I feel are a lot more important, both socially and artistically (Saunders, 2018, p. 50).

A série de autorretratos sobinfluência de drogas lícitas e ilícitas foi iniciada em 2001, cujo objetivo inicial consistia em durante o período de doze dias seguidos, experimentar vários tipos de drogas e produzir os seus autorretratos tentando registrar a influência sentida no corpo, sentimentos, sensações e como isso poderia ser traduzido em sua arte.

Neste período, experimentou 19 diferentes tipos de drogas. Cabe ressaltar que os autorretratos desenvolvidos durante os doze dias não foram os primeiros que o artista produziu sob influência de alguma droga ou medicamento. No entanto, a diferença consiste que a experiência de 2001 foi planejada com período determinado para iniciar e finalizar.

No ano anterior à experiência dedoze dias sob influência, Saunders tinha ido residir no histórico hotel John
Sevier no Tennessee, que havia sido transformado em uma residência pública, na qual moravam ex-combatentes, pessoas com dificuldade de acesso à moradia particular e segundo Saunders, muitas pessoas que faziam consumo de drogas. A intenção de Saunders, ao ir morar nesta residência, era realizar um filme sobre as pessoas que lá moravam, pois acreditava que os moradores possuíam histórias de vida interessantes, porém o seu intento não foi adiante, pois as pessoas viviam isoladas e não gostavam que invadissem as suas privacidades.

No mesmo período, após uma série detragédias pessoais e um colapso, um amigo o convidou para fazer uma longa caminhada por Appalachian trail. Ao retornar, sentia-se desidratado, com alucinações e paranoia. Por isso, ao chegar em casa tomou dois medicamentos: Valium 10mg e Xanax 5mg. Ao fazer o autorretrato deste dia, percebeu os efeitos dos medicamentos em seu desenho:

Wow, that 's kind of different for me! The way I made the pen marks look soft and fuzzy. I look soft and fuzzy because the pills made me feel soft andfuzzy!” (Saunders, 2020b, p. 02).

Ao observar os efeitos dos medicamentos no autorretrato, Bryan Saunders teve a ideia de utilizar vários tipos de substâncias e anotar os efeitos nele próprio e em sua arte. Ao observarmos o autorretrato sob influência de Valium e Xanax, vemos como é retratado um Bryan relaxado, mostrando-se autoconfiante em sua posição corporal e com um olhar fixo no espectador. Nesse caso, podemos dizer que o próprio Saunders é o espectador do autorretrato e é confrontado diretamente com este olhar que o desafia a descobrir mais sobre si mesmo.

 

Valium 10mg, Xanax 5mg 8/02/01. Ballpoint pen. In: Saunders, B.L. (2020b). Under the Influence. [s.l] [s.n]. p. 02.


Para desenhar sob influência,Saunders preparava um espaço cujo elemento central é um espelho:

Espelho e materiais de desenho. In: Saunders, B.L. (2020b). Under the Influence. [s.l] [s.n]. p. 22.

 

É para esse espelho que Saunders dirige o seu olhar tentando captar as diferentes reações e efeitos que as drogas causam em seu corpo. Este olhar espectador tenta captar espectros de sentimentos, de hipóteses de eu, ou mesmo de monstros que ainda habitam nele. Merleau-Ponty define o espelho como elemento principal do pintor, no qual o corpo do próprio artista passa a ser o corpo objeto de visualização:

Mais completamente do que as luzes, as sombras, os reflexos, a imagem especular esboça nas coisas o trabalho da vida [...] o espelho surgiu no circuito aberto do corpo vidente ao corpo visível. (Merleau-Ponty, 1961, p. 35)

Ao redor do espelho, no centro, os materiais eram distribuídos em semicírculo. Apesar do espaço ter os materiais sempre dispostos da mesma forma, para ajudá-lo na identificação dos objetos ao surgir os efeitos, Saunders afirma que os desenhos são feitos de forma intuitiva, iniciando o esboço com um lápis e depois escolhendo os materiais de pintura de acordo com as sensações.

Na introdução de Under the influence, Saunders deixa claro que os medicamentos queutiliza com frequência são por motivo de saúde, não costuma fazer uso de outras drogas (apesar de já ter experimentado e consumido algumas no passado, mas sempre algo ocasional). No entanto, artisticamente ele diz gostar de todas e seus efeitos, com exceção das drogas que o impedem de desenhar, nomeadamente Rohypnol e GHB.

As drogas e os medicamentosutilizados por Saunders não são um meio para atingir mais criatividade ou expandir a imaginação, o objetivo é sempre entender os efeitos que o uso das substâncias causam em sua percepção, e como elas podem ajudá-lo a ter diferentes sentimentos (Saunders, 2020b). No entanto, apesar de deixar claro que não faz uso constantes de drogas, exceto algumas que já tinha experimentado durante a juventude ou de medicamentos que foram prescritos, Saunders argumenta que a droga não torna uma pessoa mais criativa, mas o artista já tem que ser criativo por natureza para que o efeito da droga tenha um uso eficaz.

Segundo Saunders, a droga, ao dar uma percepção diferente do padrão, pode ser usada para intensificar sensações ou distorcer as informações sensoriais. Salienta, ainda, que não acredita no uso constante de uma droga para abrir as portas a novas percepções, pois o seu uso frequente, com o tempo, tornar-se-ia um padrão o que minaria qualquer objetivo de descobrir novas sensações. (Saunders, 2020b, p. 109).

Em um estudo desenvolvido por Sebastião Martins, como requisito de trabalho final no Mestrado Integrado em Medicina da Universidade de Lisboa, foram observados os efeitos do álcool e do ópio na criatividade. Sebastião Martins (2019) alega que durante o século XIX começou a ser difundida a ideia do uso de substâncias como fonte de inspiração, trazendo exemplos, como Baudelaire, Berlioz e De Quincey que atrelavam o consumo de drogas à personalidade artística. Segundo Martins (2019) a crença de que o álcool pode ser usado como fonte de inspiração é tão difundida e arraigada que basta apenas acreditar que consumiu para sentir-se mais criativo, exemplificando com o estudo de Joshua A. Hicks de 2011:

constatou-se que o grupo de participantes que julgava ter consumido álcool tinha um melhor desempenho nos testes de criatividade do que os que sabiam não estar a consumir álcool. (Martins, 2019, p. 13).

Martins (2019) acrescenta ainda quea relação de artistas com a droga está relacionada com a ideia de não pertencer à sociedade, além de uma forma de escapar à monotonia. Bryan Saunders (2020b) também comenta a ideia de que o uso da droga na arte pode ser usada com a intenção de confrontar o sistema ou, ainda, quando um artista age como um fora da lei, dentro da prática artística, pode ajudar a quebrar certos tabus da sociedade.

Assim, podemos perceber a diferençado uso das drogas de Bryan Saunders em sua prática artística a de outros artistas que fazem uso constante e de forma crônica[9]. Na obrade Saunders, o seu corpo todo está em função da arte como forma de investigação, testando os limites do corpo em experiências que vão além do uso de drogas, como a experiência do controle de temperatura corporal, ou estar sob completo silêncio ou ainda passar 30 dias ‘cego’, tendo o objetivo de perceber os efeitos no corpo e como esses efeitos refletem na arte, enquanto autoquestionamento do artista e questionamento da sociedade, em uma “investigação formal e estética” (O’Reilly, 2009, p. 08).

Ao longo dos anos, a prática do usode drogas como investigação artística foi utilizada por diversos artistas,
porém nem todos fazem o uso apenas especificamente para notar os seus efeitos na arte. Encontramos, a título de exemplo, uma recente tese desenvolvida por Edward Bowes, na qual investiga o uso da mescalina como criação estética na obra de Henri Michaux. Segundo Bowes (2021), Michaux não utilizava drogas por ‘prazer’ ou porque acreditava que a droga teria um efeito artístico, para Henri Michaux a investigação era “'clínica' - foi uma experimentação planificada econtrolada - uma feição que visou radicalizar a interrogação da natureza auto-reflexiva do acto de criação, des-automatizando as suas determinações psico-físicas” (Bowes, 2021, p. 31).

Há entre Saunders e Michaux umaconsonância a respeito do uso de drogas na criação artística, ambos fazem experimentos planificados com objetivo de observar os efeitos. No entanto, Saunders não acredita que a sua investigação seja de caráter científico, para ele o interesse é apenas artístico. Ainda segundo Bowes (2021), Michaux era um artista que estava completamente à margem da família, da sociedade e até mesmo dos movimentos artísticos e, “Michaux coloca-se num espaço de proximidades, de beirais, na fronteira, no limite.” (Bowes 2021, p. 64).

E é neste lugar que encontramos Saunders entre a margem, conforme ele próprio relata em suas entrevistas, Artist Talks ou no documentário Art of Darkness, ele não se senteintegrante e nem à vontade com movimentos artísticos e tem consciência de que para muitos o que ele faz não é arte. Durante os seus 10 primeiros anos de carreira, praticamente ninguém sabia o que ele estava fazendo ou qual tipo de arte. No entanto, a situação mudou quando ele começou a usar as redes sociais, fazer performances e a mediatização dos seus autorretratos sob influência de drogas.

E assim, como Michaux, Bryan Saunders está sempre na fronteira, no limite do quase excesso, no limite do que o corpo pode suportar e no limite de não ser engolido pelo monstro.

Muro branco

Para a conclusão deste ensaio, foiescolhido o autorretrato realizado por Saunders no décimo terceiro dia após o período de 12 dias seguidos sob influência de drogas. O autorretrato intitulado First Daily-Self- Portrait after Endingthe Experiment é simplesmente todo branco. O tempo de composição do desenho levou cerca de duas horas, nas quais Saunders sentia-se pacificado, puro e limpo. Saunders, após um período de 12 dias de intensa profusão de cores, sentimentos, sensações e até alucinações, pintou com acrílico um rosto-muro-branco, cor esta que reúne todas as outras cores.

“First Daily-Self-Portrait after Ending the Experiment” 8/14/01 – Acrylic Paint In: Saunders, B.L. (2020b). Under the Influence. [s.l] [s.n]. p. 19.

Este autorretrato branco reúne todosos outros ‘eus’ que surgiram e sumiram a cada dia, ou como encontramos em Deleuze e Guatari “os buracos negros se distribuem no muro branco, ou o muro branco se afila e vai em direção a um buraco negro que reune todos, precipita-os ou “aglutina-os” (Deleuze & Guattari, 1980, p. 30), isto é, ao reunir todos os seus buracos negros que engole todos as suas hipóteses de ‘eus’. Saunders obtém um novo eu-tela em branco, desta forma, está pronto para receber novas camadas de sombras e cores, portanto, novas camadas de novos ‘eus’ que o faz penetrar em si próprio, perdendo-se e reencontrando-se em cada olhar que está presente no autorretrato que investiga o próprio artista. Ao realizar o primeiro autorretrato, não sóapós o primeiro dos 12 dias Under theinfluence, mas a cada dia de sua vida, Saunders renova-se como artista ecomo pessoa que experimenta uma profusão de novas identidades como hipóteses.

E a cada autorretrato, Saundersoferece a nós, o público, uma possibilidade de interpretação e hipóteses de trabalhos. Sabemos que este ensaio-hipótese foi engolido pelo buraco-negro que é a obra de Saunders, mas também é um muro branco, que deixa como hipótese trabalhos futuros.

Referências:

Allet, N. (2005). L’autoportrait.[s.l.] Université de Genève.
Bowes JR, E. (2021). Alucinaçãoe virtualidade: elementos de uma materialidade artística em Henri
Michaux. (Tese de Doutoramento). Universidade de Coimbra, Coimbra.
Deleuze, G., Guattari, F. (1996). Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. Vol.3. São Paulo: Editora34. (1980).
Derrida, J. (2010) Memóriade cego: O auto-retrato e outras ruínas. Tradução: Fernanda Bernardo.Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Gil, J. A. (2005). Arte doRetrato, In: Sem Título – Escritos sobre Arte e Artistas. Lisboa: RelógioD’Água Editores, pp. 15-67.
Gil, J. A. (1994). Monstros- Tradução: José Luís Luna. Lisboa: Quetzal Editores.
Martins, S. G. (2019). Ainfluência do álcool e do ópio na criatividade. (Trabalho final MestradoIntegrado em Medicina). Universidade de Lisboa, Lisboa.
Merleau-Ponty, M. (1992). Oolho e o espírito. 2ª edição. Lisboa: Vega. (1961).
O’Reilly, S. (2009). TheBody in contemporary art. London: Thames & Hudson.
Pommier, É. (2007). Introdução:Retratar. In: Concerto das Artes. Kelly Basílio, Mário Jorge Torres, Paula Morão e Teresa Amado (Org).Porto: Campo das Letras.
Saunders, B. L. (2018). The Interviews. Johnson City: Stand-UpTragedy Press.
Saunders, B. L (2019). 30 Days Totally Blind. [s.l] [s.n].
Saunders, B. L. (2020a). The Colors Month. [s.l] [s.n]
Saunders, B. L. (2020b). Under the Influence. [s.l] [s.n].

Notas de fim:

[1] Considera-se que o pequeno recorte que será feito énecessário, porém devemos notar que além dos mais de 13000 autorretratos já realizados pelo artista, ainda há outras atividades artísticas desenvolvidas
por Bryan Saunders.

[2] Entende-se por drogas legais aquelas que não são proibidaspor lei, seja medicamentos, ou outras substâncias que Saunders utilizou, prescritas ou não por médicos. E drogas ou substâncias ilegais aquelas que são consideradas proibitivas segundo as legislações vigentes em determinados contextos dos Estados Unidos.

[3] Bryan Saunders gentilmente cedeu para este ensaio todo o material reunido em volumes ainda não publicados.

[4] East Tennessee State University.

[5]Ver: Art of Darkness. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Ld9tr2Tjyo0. Consultado em: 28 de dezembro de 2022.

[6]Idem.


[7]Conversa com alunos da Mississippi State University em 2019.Disponível em: Bryan Lewis Saunders MSU 2/6/19 Artist Talk Part1 Consultado no dia 28 de dezembro de 2022.


[8] Ver: ArtistTalk Disponível em: Bryan Lewis Saunders MSU 2/6/19 Artist Talk Part. Consultado no dia 28 de dezembro de 2022.

[9]Sebastião Martins (2019) cita alguns artistas de diversasáreas que tiveram queda na produção e criatividade como consequência do efeito do consumo crônico de drogas e álcool, nomeadamente Jim Morrison, Scott Fitzgerald, Jean Sibelius, Billie Holiday, Charlie Parker, Truman Capote e Jack Kerouac.